quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Imensidão


Pega na caneta, delicada e possessivamente. Tira-lhe a tampa sem antes a agarrar firmemente. Pega na folha em branco, nessa folha vazia de materializações hostis e juízos irredutíveis e escreve. Com a ponta da caneta em seco, transcreve o teu lado inumano para o papel, transcreve a tua fúria gloriada para esse vazio remetente ao além, deixa as máscaras ilusórias morrerem, e o transumano nascer através de ti, tomar o teu corpo como hospedeiro, atravessar o teu lado conscientemente pensante e apoderar-se da tua alma – oh alma traiçoeira não fujas de mim, o corpo é teu, transgride as fronteiras do meu corpo, esse corpo amaldiçoadamente humano – lenta e poderosamente, transumana-te através da minha essência, do meu existencial tão simploriamente reduto. Então, assim, calma e pacificamente, a fluência da tinta na coerência do papel faz desabar o meu corpo, deixando somente a minha alma a escrever – nua e crua - a expandir o seu esplendor tão palpavelmente alvorado através do papel, na forma de palavras, que tais como estrelas, constelam o divino do céu e a alteza do Universo, rasgando a luz e atravessando a escuridão, assim essas estrelas, as minhas palavras, tomam o valor do desconhecido, que embora desconhecido brilha nas nossas noites, suspirando as suas mágoas à Lua e os seus tormentos ao vento. Oh escrita, serás tu o meu céu emoldurado ou a minha alma desnua!?