sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Passado, passado



Um vazio enorme devotado pela essencialidade presente no acto de viver, uma essência friamente momentânea e tremendamente calculista. Uma conjuração de olhares morbidamente inatos, rodeada pela passividade de se ser apenas um ser meramente visualista, talvez influente do destino já destinado e da vida já traçada. A impetuosidade do nada em si, reflectido, demarcado pelas areias do passado que jamais voltarão a aglutinar-se em algo definitivamente sólido, será isso o passado!? Areia!? Poeira!? Exiguidade distancial do que já foi e do que era!? Deturpada, deturpada, esta mente perturbada e sofrida pela anormalidade – isto é, a fuga aos padrões sócio-culturais da dita Humanidade – pensa e afirma-se a si mesma que o que ela pensa é passado, mas o que ela vive é presente. Passado ou um presídio!? Uma prisão conspirada em teias de condenação unicamente memorialista, vagarosamente psicológica, mentalista e espiritual. Todavia, todos sabemos, que o passado aconteceu, embora nenhum de nós o vivamos, nenhum de nós o vejamos actuar no palco da Existência Presencial, talvez até o tenhamos visto mas de todo não o vemos, apenas o fingimos, tentando reproduzir o que as limitações do nosso consciente temporal nos fronteiram. Na verdade, o passado é tão presencialmente existente como o Homem: embora todos o tentem alterar, embora todos o tentem ludibriar e muitas vezes fazê-lo renascer, efectivamente, ele não muda, não volta a viver, morre quando o ponto da sua existência é escrito e quando as linhas da sua trágica exequibilidade se retraem sobre si mesmas, ainda assim, o tempo, tal como o Homem, prolonga-se para lá da Existência, imortaliza-se no passado e mortaliza-se no futuro.