sexta-feira, 21 de outubro de 2011

the best of people



Pára. Pensa.

A respiração era ofegante conquanto o corpo dava do seu máximo para se manter em pé, o cérebro já não pensava, consciente desligado. Apenas eu, o instinto, a intuição e a sobrevivência. Num acto indescritível de raiva mordaz golpeava o ar em busca da face do oponente, “vá lá, só mais um bocado”. Eram dois. Alturas semelhantes, forças desproporcionais ao tamanho embora um mais entroncado que outro. Cabelo cor de oliveira, feições pesadas. O exercício de avaliação marcial era simples: dois contra um. Apenas quem já praticou Artes Marciais ou Desportos de Combate sabe o quão fantástico é sentir a adrenalina a perfurar as veias enquanto o corpo autocria movimentos instintivos baseados em aprendizagens subdesenvolvidas e mantidas no mais profundo do nosso encéfalo. Descalço, dogi vestido, cabelo rapado, suor arquejante, barba cerrada – perfeito para um confronto corpo-a-corpo. O primeiro a vir para cima de mim foi o mais duro e mais pesado, num movimento contíguo esmurrou-me o estômago de modo a fazer-me perder forças. Não resultou. Agarrei-lhe o pulso, curvei-lhe a omoplata de maneira a conseguir entrar melhor com a técnica, arqueei-lhe o carpo para o fazer sentir dor e portanto perder autonomia psicomotora e num movimento catalisador de muita dor projectei-o para o chão fazendo-o voar sobre as minhas costas. Ouvi um grunhir distinto de dor. Óptimo, a técnica tinha resultado, agora só faltava um. O cinto negro do lutador que faltava já tinha demasiados anos de experiência e excessiva vida própria para ser derrubado, ainda assim numa atitude denodada arremessei a minha perna direita à cabeça dele. Falhei. Numa breve questão de milésimas de segundo aquando pontapeava-lhe a cara aproveitou-se da minha posição de debilidade momentânea – apenas um pé no chão – para me rasteirar e consequentemente fazer-me cair de cabeça no chão, raspando o fémur no soalho de madeira. Dor, muita dor. Sabia que alguns segundos a queixar-me de dor faria diferença, portanto levantei-me de imediato e encarei o adversário nos olhos. Dali saiu de rompante dois pontapés -um direccionado às costelas, o qual defendi com um bloqueio e outro direccionado ao estômago ao qual me bastou esquivar – o impacto dos pontapés tinha-me deixado o braço em mísero estado logo não sabia muito bem o que fazer. Porém lancei o punho à cara dele, atingindo-lhe o queixo. Ouvi uma roncadela inesperada vinda do meu parceiro de luta. Numa questão de segundos, interroguei-me se deveria ou não socorre-lo e optei por inclinar-me e agarrar-lhe no braço para o ajudar. Foi essa questão de segundos de raciocínio solidário que permitiu ao meu parceiro de luta pontapear-me certeiramente no maxilar. Fui de imediato ao chão e enquanto estava no chão, o meu Sensei – que na verdade, era o meu parceiro de combate que se tinha acabado de aproveitar da minha susceptibilidade para me dar o K.O - debruçou-se sobre mim, e num meado de voz vencedora murmurou “Sabes qual é o teu problema!? Acreditar no melhor das pessoas.”