quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Scriptum


O longo e tortuoso caminho da insanidade soerguia-se sob os meus pés, levitando uma ponte de palavras por dizer e perguntas por responder. A minha quota-parte de vivências traumáticas brutalizava-se num número muito além daquele que eu gostaria de conseguir numerar. Cá fora, a chuva fazia-se sentir, indo de encontro com o meu corpo deambulado às portas da incerteza. As gotas ardentes das mágoas dos deuses focavam-me tal como um alvo a abater enquanto me escorregavam pela cara e deslizavam através da impenetrabilidade da minha alma. Não era a chuva a única a deparar-se com a muralha impenetrável por qual as minhas emoções e sentimentos estavam conservados, também as pessoas chocavam com ela e tentavam mandá-la abaixo. Contudo, ninguém é capaz de destruir aquilo que não vê. A vagareza da minha autoconsciência atraiçoava-me vezes sem conta. Uma sombra divagada no meio da luz, um corpo hostilizado entre mundos, pensamentos naufragados em mares de esperanças, sonhos estilhaçados em ambiguidades mútuas. Era tudo tão momentâneo - afinal de contas “o tempo perde-se no decorrer do seu acto” – sim, a consentaneidade do tempo e do momentâneo é algo incompatibilizado com a beleza e invulgaridade da vida. Todavia, se não fosse momentâneo era o quê!? Eterno!? E qual a piada do eterno!? Existe algo eterno!? A vida é senão, a eternidade da existência sobre a forma de múltiplos conscientes. Somos eternos, embora não vivos, continuaremos a ser eternos, não necessitamos de viver para existir, apenas necessitamos de existir para estarmos vivos. A imortalidade apenas se obtém ultrapassando as fronteiras do consciente terreno e da vida corpórea.