quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O segredo do mar

Enquanto dançávamos à beira-mar tentando representar a harmonia (já) tempestuosa do vento, fazia círculos (já) inacabados na areia enquanto tu, te rias desconsoladamente de toda a frustração presente na tragédia do acto. A dança e a geometria. Dictomias (im)perfeitas de uma existência antitética (ou antiética?).
E assim, enquanto dançava ao som do teu riso, olhava para o horizonte do mar e questionava-me qual seria o segredo.

Uma alma. Duas almas. Três almas
Um corpo. Corpo?

Deitado, areia molhada, corpo despido, peito firme, lábios grossos, nariz adunco. 
Em passos débeis, dirige-se ao mar e sente. Sente o corpo gritar e a alma pedir socorro aquando delira momentaneamente ao presenciar-se com o embate do tempo na sua alma (tempo, clima, estado, temperatura). Mas o tempo não sente o que a alma consome. O tempo não sente e a alma chora. O tempo foge e a alma paralisa. Paralisa ao ver-se confrontada com um embate do tempo, tão furioso ao olhar para si e saber que tanto é como deixa de ser, ao consciencializar-se da sua própria inexistência. E assim, fujo ao tempo. Mergulhando nele. A solidão acompanha-me, circunda-me, protege-me. Porque só posso fugir, sozinho. Caso contrário, o tempo acabará por levá-los ao fundo. O fundo do mar. Não mergulho até lá. Porque sei, que acaso mergulhar, não voltarei à superfície. Não por não conseguir mas apenas por não querer. O fundo do mar é demasiado perfeito para querer voltar, porque aí, aí já não sinto o tempo. E se não o sinto, ele não existe. E se ele não existe, eu sou infinito. Infinito, onde já não se mergulha, apenas posso flutuar. Flutuar no meio de nada. Porque o infinito é isso mesmo: a insignificância humana. E esse, esse é o segredo do tempo, é o segredo do mar: onde não há tempo e onde não há vida, existe o infinito e a harmonia da contemplação mas uma contemplação perante a (in)significação universal de uma alma particular. Mas onde existe finitude, há significado. 
Levei a cabeça à superfície da água. Voltei a sentir, voltei a sofrer, voltei a pensar, enquanto os meus pulmões se esforçavam por querer respirar. Não eu mas os meus pulmões.