Pouco me interessava as
consequências do acto em si, desmedido, impulsivo ou mesmo erotizado pela
necessidade de carência corporal que só tu despertavas em mim. Apenas me
interessava a tua pessoa, projectada ao meu lado pela luz cintilante do sol que
se entrecruzava com a plenitude intocável, inarrável e inimaginável do céu solene.
Algures num horizonte longínquo (in)temporalizado pela instabilidade
fragilizada do instante momentâneo, o Sol ponha-se, murmurando as suas infâmias e
pecados mortais ao vento, que percorria-o pensadoramente, reflectindo-se numa áurea
translúcida que nos acarinhava a face ao de leve
Sob este cenário edénico,
estavas tu. Percorrendo o horizonte celeste com a ingenuidade do teu olhar e a
candura infantil da tua face inocente, causavas-me, lenta e precocemente um
frenesim de sentimentos puros. Direi puramente impuros. Despertados pelo desejo
insano que a tua presença me causava, pela necessidade indescritível que o meu
corpo tinha pelo teu, pela beleza que só tua, era para mim a única beleza digna
de tal nome.
Distinguias-te na
hostilidade rochosa que nos carecia o espaço para conciliar-nos amorosamente, reflectindo
o teu olhar líquido pela plenitude do tempo, perdido na tua própria mente, na
tua própria e fatídica realidade de ti mesmo. Fora assim, na vibrante instância
de querer sentir-te pertencente à minha pessoa, na aconchegante tentativa de
possuir o teu corpo como meu, no inóspito sentimento de projectar-te num sempre
e não num agora, coloquei todo o teu corpo engenhosamente esculpido juntinho a
mim. Caído nos meus braços, decaído sobre mim, enquanto as nossas mãos se
entrelaçavam e os meus lábios te beijavam a testa, as maçãs de rosto, as
sobrancelhas, o nariz, o queixo e o resto da tua face que, ainda hoje está tão
viva nas minhas memórias, ainda hoje desperta em mim os mesmos sentimentos
constantes. Orgulho-me de dizer, que os nossos corpos se tornaram um, os nossos
lábios deixaram de existir quando nos beijámos pela primeira vez. A insípida
existência individual de cada um, tornou-se completa aquando os dois se
tornaram num só afecto, num só momento e sentimento.
Hoje, sentado aqui
nas brumas arenosas, com o mar como ponto de fuga tento esconder todo o
sentimento avassalador que tenho e tive por ti nestas palavras, desremediado no
meio desta prosa que de verdadeira poesia tem tão pouco. Mas a verdade, a
insólita realidade do meu ser, é que já não consigo. As palavras não são
suficientes para descrever a mágoa penosa que me infesta o corpo, e a
congruência existencial! Se queres ouvir a verdade, se estivesses aqui para me
ouvir dir-te-ia que a dor é demasiado grande para suportar sozinho, que a tua presença
é o que, ao longo dos dias mais tenho desejado, que todas as noites é no teu
nome que tenho pensado e os meus sonhos que tens protagonizado! És tu quem eu
quero, somente tu. E eu!? Bem, talvez seja fraco, talvez e de facto, o seja.
Depois de tudo isto deveria talvez não mais dirigir-te a palavra, e
sinceramente é isso que quero fazer, que sinto ser o justo e o correcto! Porém,
o sentimento que nutro por ti, o sentimento que fizeste (re)nascer em mim é tão
grandioso. Cada vez que o tento matar, é mais um pouco de mim que morre. Cada
segundo é mais uma batalha imiscuída no seio da minha emocionalidade! Cada minuto
desprovido da tua pessoa é mais um minuto falhado! Cada hora, cada dia sem ti é
uma mágoa de consolação inalcançável. Lembro-me, talvez com mais forte memória
que tu, do dia em que, quando te abraçava e te acariciava os cabelos te disse “nunca
te deixarei”.