Sente.
O relógio indica as
02:23h da manhã. Mas não sei. O tempo sempre foi algo que me transcendeu em
grande escala. Não por ser tempo. Mas por não o ser. Talvez por o tempo apenas
ser tempo porque o imaginamos tempo. Ou quem sabe, pelo tempo ser o nosso tempo
e não o tempo. Um tempo e não O tempo. Conjurações inatas de uma mente morta
pela temporalidade da lógica existencial momentânea. Uma mente viva pelo tempo,
e morta por ele. Viva nele, demarcada na sua realidade irascível, morta no seu termo intrínseco ao, o tempo
ter, necessariamente, de deixar de ser tempo nalgum dado momento da nossa
frágil e delicada existência fatal.
Fechei os olhos. Vejo o Mundo ou nada vejo!?
Abro-os. Vejo o Nada, ou o Mundo vê-me!?
Eu não sei, nada nada
sei. O Eu, o eu, o eu. Mas o que é essa tão divaga e disforme forma solipsista
de mim mesmo enquanto um só indivíduo aqui e agora!? Não estará essa forma tão
fragmentada numa multiplicidade equidistante de “eus mesmos” que jamais
conseguirei projectar-me no Cosmos como unicamente um “eu”!?
Serei eu um somente
projecto de existência equacionado através da fatal biologia que nos atraiçoa a
existência!? Nada mais que um só elementar sobrevivente do meu Mundo!? Isto é,
o Mundo que é meu pois sem mim o Mundo não o seria Mundo. Por outras palavras,
um Mundo que só existe porque eu existo. Mas até que ponto é que esta teoria
extremamente individual é, de um ponto de vista científico-moral uma realidade
empírica!? Não o é, de todo. Porém, a realidade existencial do meu ser
individual é que de facto, o Mundo só existe porque eu sei que ele existe, caso
eu não existisse, jamais o Mundo seria Mundo. Jamais o Mundo existiria. Deste
modo, vimo-nos envoltos num confronto dualista: será que já existimos num Mundo
inexistente!? Ou será que inexistimos num Mundo já existente!? Eu num Mundo ou
um Mundo em mim!? O mundo em mim: vivo através da minha alma, solto livremente
nas intermitências das minhas veias, aprisionado no fulcro da minha
racionalidade (i)moral, envenenado pela minha ociosidade, escondido atrás da
cegueira que me infesta a congruência visionária, rastejando através dos
membros que me permitem este agir mundano, este agir anormal! Eu num Mundo:
erguido sob a forma biológica do eu temporariamente infinito na medida
inconcepta da temporalidade universal, acorrentado pela liberdade existencial,
vivendo na trágica lógica espacial subjacente à paralisia imutável do aqui,
atormentado pela inabilidade da ubiquidade, do conhecimento absoluto ou da
perfeição transumana, torturado pela amargura da morte, vivo pela morte, vivo
através da morte.