quinta-feira, 28 de junho de 2012

Nada, nada sou


Sente.
 O relógio indica as 02:23h da manhã. Mas não sei. O tempo sempre foi algo que me transcendeu em grande escala. Não por ser tempo. Mas por não o ser. Talvez por o tempo apenas ser tempo porque o imaginamos tempo. Ou quem sabe, pelo tempo ser o nosso tempo e não o tempo. Um tempo e não O tempo. Conjurações inatas de uma mente morta pela temporalidade da lógica existencial momentânea. Uma mente viva pelo tempo, e morta por ele. Viva nele, demarcada na sua realidade irascível, morta no seu termo intrínseco ao, o tempo ter, necessariamente, de deixar de ser tempo nalgum dado momento da nossa frágil e delicada existência fatal.
  Fechei os olhos. Vejo o Mundo ou nada vejo!? Abro-os. Vejo o Nada, ou o Mundo vê-me!?  
 Eu não sei, nada nada sei. O Eu, o eu, o eu. Mas o que é essa tão divaga e disforme forma solipsista de mim mesmo enquanto um só indivíduo aqui e agora!? Não estará essa forma tão fragmentada numa multiplicidade equidistante de “eus mesmos” que jamais conseguirei projectar-me no Cosmos como unicamente um “eu”!?
 Serei eu um somente projecto de existência equacionado através da fatal biologia que nos atraiçoa a existência!? Nada mais que um só elementar sobrevivente do meu Mundo!? Isto é, o Mundo que é meu pois sem mim o Mundo não o seria Mundo. Por outras palavras, um Mundo que só existe porque eu existo. Mas até que ponto é que esta teoria extremamente individual é, de um ponto de vista científico-moral uma realidade empírica!? Não o é, de todo. Porém, a realidade existencial do meu ser individual é que de facto, o Mundo só existe porque eu sei que ele existe, caso eu não existisse, jamais o Mundo seria Mundo. Jamais o Mundo existiria. Deste modo, vimo-nos envoltos num confronto dualista: será que já existimos num Mundo inexistente!? Ou será que inexistimos num Mundo já existente!? Eu num Mundo ou um Mundo em mim!? O mundo em mim: vivo através da minha alma, solto livremente nas intermitências das minhas veias, aprisionado no fulcro da minha racionalidade (i)moral, envenenado pela minha ociosidade, escondido atrás da cegueira que me infesta a congruência visionária, rastejando através dos membros que me permitem este agir mundano, este agir anormal! Eu num Mundo: erguido sob a forma biológica do eu temporariamente infinito na medida inconcepta da temporalidade universal, acorrentado pela liberdade existencial, vivendo na trágica lógica espacial subjacente à paralisia imutável do aqui, atormentado pela inabilidade da ubiquidade, do conhecimento absoluto ou da perfeição transumana, torturado pela amargura da morte, vivo pela morte, vivo através da morte.
 Mas eu sou, só sendo ser é que sou. Sendo nada, nada sou. Correcto!? Lógico!? Facilmente justificado!? Não. Sou nada, nada sou. Sou tudo o que quererei ser, totalizado a partir de um nada contínuo que se atravessa na intransmissibilidade do meu ser que por ser nada, o é. Repetirei: nada sou, enquanto pensar que algo sou. Apenas serei, a partir do momento que encaro que sou nada, que nada sou.