Se alguém conseguisse ver o que eu vejo ou sentir o que eu sinto. Se alguém soubesse o que eu sei ou fosse quem eu sou. Se alguém, um simples alguém, se intrujasse na minha alma e apoderasse do meu ser. Se alguém, um complexo alguém, se imiscuísse no meu ser e me levasse longe. Se alguém me visse como eu verdadeiramente sou ou compreendesse o que eu não compreendo. Se alguém, um novo e enaltecido alguém, tomasse as rédeas do controlo da minha vida e me levasse a conhecer o infinito. Se alguém, um velho e fustigado alguém, me ensinasse a ver com olhos ao invés de ver com a alma. Se alguém, um vivo e erguido alguém, me desse forças para conseguir questionar o estabelecido. Se alguém, um morto e enterrado alguém, me fizesse soerguer da morte em vida. Se um alguém existisse eu tornaria-me alguém, face à inexistência de alguém, tornar-me-ei um falso alguém, devotando as minhas esperanças na falsidade da verdade e na verdade do falso, reescrevendo-me como alguém que é alguém e como um alguém que nunca deixará de ser apenas um alguém.O Alguém, ou simplesmente um alguém, possuir-me-à rapidamente. Antes que sucumba como um alguém falsamente verdadeiro e verdadeiramente falso, um alguém deturpado pelo vazio presente no finito. Um alguém que decaí-se a si próprio cada vez que pensa em deixar de ser Alguém!
