quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Subtilidade


 Subia-me pelo corpo, degrau a degrau, não deixando de lado o toque firme no corrimão da subjectividade. Intrigava-me a mente, enchia-me o olhar, numa atitude de puro deleite contemplava-me como uma pequena gota perdida no centro de um mar glorioso. Decerto que encontrar o centro de um mar não seria tão difícil como encontrar o centro do Ser Humano – o centro do amor, da vida, da alma – o centro de algo a que não corresponde centro nenhum, ou direi o centro do nada!? Afinal de contas “porque há ser e não antes nada!?”.
 E ali me revia eu, a confrontar-me frente a frente com o meu oponente mais enigmaticamente obscuro: a existência ou como muitos dos meus mais inteligentemente loucos companheiros de batalha a chamavam “inexistente existência”. Ali estava ela, do outro lado do campo de batalha, algures situada entre o psico-neurológico e o metafísico, empoeirada sobre os olhos do Mundo, insistindo a iludir a vida e a fingir a morte, munida do controlo sobre o ser e o ente, o agora e o outrora. De facto, a Existência fazia-nos decair num frenético e irregular rodopio de confucionismos relevando-nos à sua irreal realidade (ou real irrealidade?). Não necessitava sequer de armar o seu fiel arsenal, que apenas a ela permitia atentar, anular e aniquilar a sua própria Existência. Bastava-lhe apenas continuar a existir. Não seria uma guerra fácil, de um ponto de vista bastante absolutista, visto que se vencêssemos a Existência, deixávamos de existir. Ou será possível existir sem bio-espiritualmente existir!? Isto é, existir sem reger-se pela existência!? Manipular o inexistente e controlar as fronteiras da conjecturada existência. Mas então como seria possível viver sem existir?! Mas será esse o fundamento da existência!? Viver!?
 Deixando de lado a ontologia e a metafísica foquei-me no presente. Sentado sobre a areia, enquanto os meus dedos se fechavam sobre a escassez dos pequenos e tão subtis grãos, que já em tempos foram rochas e hoje não passavam de restos de grandeza que embora pequenos continuavam a ser grandes dentro da sua exiguidade. Incontrolável, admito que me faz uma certa comichão pensar que há certas coisas que não se regem pelas regras de existência Humana mas sim pelas regras imutáveis da Natureza. 
 Num flash de memórias e contramemórias fechadas aquém num baú empoeirado no meu lobo temporal medial, interrogava-me sobre o tamanho do Homem quando comparado com o Mar. Éramos tão pequenos ao lado do imóvel mas tão imenso oceano, tão pouco perfeitos, tão reles e inúteis quando colocados lado a lado com a Natureza. Todavia, embora a Natureza seja perfeita dentro dos seus simbolismos e perfeições ambíguas nós somos mais que somente perfeição. Ao contrário da Natureza, não somos estáticos no que toca ao funcionamento do Mundo, somos sim adaptáveis e não só somos adaptáveis como somos mutáveis! É-me muitas vezes dito que nós, Humanos, não podemos viver sem o Mundo, mas que porém o Mundo pode viver sem nós. Mas será que aí o Mundo estaria verdadeiramente vivo!? Não estará a essência da vida projectada no Ser Humano!? Imiscuída na nossa alma que transtornada sob a forma das nossas mais variadas emoções e sentimentos faz de nós tão complexos dentro da nossa simplicidade!? Podemos ser pequenos aquando comparados com a Natureza. E não me atrevo a cair em vacuidades ao ponto de dizer que a Natureza não tem alma. Contudo, alma humana quem a tem!? Na minha opinião que apesar de tão insignificante ainda assim é pura dentro da sua impureza, alma humana é senão o reflexo do nosso pensamento, que por sua vez torna-se o espelho da nossa mente que apenas é controlada por nós. E quem somos “nós” senão humanos!? Através de uma forma subtil e impessoal, a mente humana toma a forma do infinito, viajando por Mundos humanamente impossíveis e demasiado completos para o desconhecido intemporal com que todos nós, todos os dias nos encaramos.