segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Luar



Fecho os olhos. Vejo-te a ti, Mundo, perdido nesse emboscado de beleza sombria, rebuscando pedaços de nós e folgando a tua virtude em carência à nossa vivência. Virtualizando a tua Pessoa nos nossos corpos e a tua pulcritude nos nossos actos - não precisando de ser perfeitos nem ritmados, apenas instintivamente humanos – pegando no pincel da Vida e pintando a tela do Cosmos com a formosura do existencialmente consciente e com a vulgaridade da pureza abstracta. Abro-os. A lua, cheia e abonada, é banhada pela eloquência do vento, enquanto esse sujeito fatigado farta-se de adoçar as estrelas. A luz lunar reflecte-se nos olhos alheios de quem se atreve a olhá-la, incidindo na sua alma e iluminando o seu ser, assim o ressaltar de toda uma alma faz-se por traduzir em batimentos curtos e irregulares transtornados sobre a forma indizível de um olhar enigmático. Na realidade, de enigmático pouco tem. Embora os enigmas sejam desafios submersos em oceanos de mistério e levitados à luz do desconhecido, bastava a nós, os enigmados seguirmos a nossa intuição primitiva para rapidamente, nos apercebermos, que de enigma pouco tem. Ainda assim, os meus olhos encontravam serenidade nos olhos da Lua, ali estáticos, mas ainda assim enigmaticamente fáceis, talvez a serenidade se devesse, sobretudo, ao facto da Lua não me questionar, não me avaliar, não se tentar sobrepor a mim. Ali, como dois iguais – embora ambos soubéssemos que estávamos muitíssimo além da simples igualdade, éramos mais que isso, éramos seres imiscuídos na mesma razão de coexistência: amarmo-nos, amar a ubiquidade, que cada um de nós desempenhava na vida do outro, amar o elo de ligação que lentamente nos tornava do mesmo sangue, não irmãos, mas amantes - assim eu e a Lua, minha eterna gladiadora, degustávamo-nos com o olhar de cada um de nós, sem ter noção que agora, aquele olhar não pertencia a cada um mas ao outrem, o meu olhar lunar e o teu olhar humano, juntos juntavam-nos numa conjuração de olhares erradamente humanos.