sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sartre

    

  
“Estamos condenados a ser livres”
A contextualização factual da liberdade em si definida, tem sido posta em causa desde a divagação existencial do Homem, isto é desde que o Homem se tem questionado a si mesmo sobre a sua existência, e se esta é, de facto, uma existência livre e não uma existência decaída em riscos já previamente traçados numa linha tão oblíqua e pouco certa como a Vida, por alguém que não, nós. Seremos nós seres verdadeiramente livres!? Ou não passaremos de robots mergulhados em conjecturas e presunções!? Nascemos apenas como projecto e necessidade caprichosa do destino!? Não serei eu o Escritor da minha vida!? Da minha existência, que embora vagarosamente banal face ao Cosmos e à formusura do Ente, ainda assim, é minha!? Serei eu um ser pré-destinado!? Um simples peão nas mãos do Destino!? Não serei um ser livre nas minhas próprias escolhas, capitão da minha alma e senhor da minha existência!? Ou serei eu um mero fantoche brutalizado nas mãos de alguém ou algo que, não eu!? Um robot escravizado pelo seu próprio direito de nascer e viver, futilizado e atraiçoado pela sua própria realidade que, de um modo inconscientemente rectilíneo, já está há muito decidida. Posta esta série de questões de lado, e tentando analisar a frase de Sartre, penso que Sartre considera a liberdade como uma condenação, primeiramente por esta já nascer connosco, ou seja, Sartre acha que, efectivamente, o Homem é o único responsável pelo seu destino, ou seja, é o Homem o escriba da sua existencialidade, a liberdade está imiscuída nele, na sua essência, projectando-se na forma do seu destino. Podemos interpretar que para Sartre não existe destino, o destino emerge Do Homem que sendo um Ser Livre é, naturalmente, um ser Criador do seu próprio destino – ou seja, na verdade, não podemos considerar o Destino, como uma entidade criadora ou como um ciclo predestinado mas sim como uma consequência da Liberdade do Homem enquanto Ser racionalmente pensante, criador e projector da sua própria acção, capaz de escolher, actuar e viver livremente (isto pondo de lado as suas condicionantes) logo, quando me refiro a Destino, refiro-me sim, à condenação de Liberdade materializando-se no Homem enquanto ser capacitado de traçar o seu próprio destino que não é então Destino mas sim existência, logo o Homem é, capaz de controlar a sua existência, e não sendo capaz de o fazer, ao menos é-lo livre de tentar – o Homem é o capitão desse navio naufragado em marés infinitamente desconhecidas e momentaneamente temporais a que chamamos de Vida, é também Rei do seu Reino de acções e movimentações, Reino trágico ou Reino vitorioso, mas ainda assim se constitui Rei dele, que embora não exequível tem o Poder de decidir, dominar e reinar o seu próprio Reino, não só é Capitão ou Rei como ainda é Senhor do seu próprio Cosmos, é O Criador da continuidade dos seus actos, das suas vivências enquanto Ser Vivo e enquanto Homem. Sendo assim, podemos encarar a Liberdade como a Existência e a Existência como a Liberdade, ou seja, se somos Livres de escolher o nosso destino e portanto a nossa própria Existência somos responsáveis por ela, automaticamente que somos Seres livres existimos e criamos existência, e ao existirmos automaticamente que somos livres e que somos regidos pela liberdade, logo condenados a existir e a ser livres. A liberdade é também ela própria, uma condenação de preço indefinível, estamos condenados a ser livres – a liberdade pode ser encarada como uma condenação por estarmos dependentes dela para viver, sendo seres livres e logo, responsáveis pela própria existência e rumo da vida, ao abdicarmos da liberdade estamos a abdicar da opção de escolha e controlo sobre a nossa própria essência, estamos presos pelas correntes tão ironicamente livres da liberdade que enrolam a nossa própria existência num misto de consciência inconsciente e inconsciência consciente, ou seja conscientes de sermos livres mas inconscientes de estarmos condenados a sê-lo e condenados também a sermos nós próprios senhores do nosso destino, pensamos ser livres quando na verdade estamos obrigados a sê-lo, e também inconscientes ao dizermo-nos predestinados mas conscientes ao aceitar que a liberdade é um preço demasiado condenável e valoroso para seres tão facilmente decaídos em irregularidades como nós. – de qualquer dos modos, embora uma liberdade condenável e demasiado transcendente para seres como nós, que muitas vezes nos deixámos apoderar pela irracionalidade, ainda assim é uma liberdade que se transumana para lá dos seus próprios limites, permitindo ao Homem dar forma à sua condição de ser racionalmente pensante e tomar-se Deus da sua própria Existência, ainda que um Deus meramente hipotético e totalmente inexistente, fronteirado pelo existentemente conjecturado.