- Existe um número imutável de situações que nos revelam um mundo completamente oposto àquele que tínhamos em mente, aliás nem sequer é o mundo mas sim as pessoas que vivem nele. Chegas a um dado momento da tua vida que deixas de confiar nas pessoas, que pouco ou nada te importas com o que se passa à tua volta, que não consegues sequer sorrir. Nesse mesmo dado momento dás por ti cheio de raiva, de angústias, dás por ti a gritar e a chorar sem motivo aparente. Estou a chegar a um ponto de saturação imenso, são demasiados problemas, revelações e acontecimentos. Creio, que de facto nunca me imaginei neste estado tão lastimável e tu conheces-me minimamente bem, sabes que sempre fui uma pessoa alegre, roçando até a parvoíce. Sou obrigado a admitir que ao longo do tempo as pessoas têm tendo tendência a levar bocados de mim - grandes bocados. Não gosto de desabafar, de dar a conhecer aos outros a faceta de fraco, mas ultimamente as coisas têm-se vindo a agravar a um nível muito superior àquele que planeara. Cada dia que passa tenho mais certezas que a racionalidade (?) do ser humano se mantém aquém do alcance da maioria populacional da raça humana. Uma parte de mim – talvez a mais agressiva, frustrada e traumatizada - quer procurar os responsáveis por todas as cicatrizes que tenho dentro de mim, os responsáveis que me fazem desejar nunca ter saído à rua naquela sexta. Já outra parte de mim – a mais débil, fraca e carinhosa – gostava que naquele dia tivesse tido alguém que me abraçasse e dissesse “Eles vão pagar!” alguém que não dissesse apenas “tem calma, tem calma”. Inevitavelmente, gostava que o meu pai se tivesse preocupado comigo, que me tivesse abraçado, acarinhado e dito “Filho, és forte e eu amo-te. Vai-se tudo resolver.” mas ao invés disso eu apenas ouvi “Até foi bom isto ter-lhe acontecido. Para ver se cresce”. Mãe!? Nesse dia nem sequer nos falámos. Adiante, Einstein já dizia "A felicidade não se resume na ausência de problemas, mas sim na capacidade de cada um de lidar com eles." Gostava que Einstein tivesse passado pelo que eu passei. Ainda que tudo isto me transtorne imenso, acabo por irremediavelmente tentar ultrapassar as barreiras do trauma e tentar apagar as cicatrizes incrustadas da iniquidade, após este desabafo voltarei a colocar a feliz máscara inerente à adaptabilidade comum do ser humano.