É uma entrega à condenação perene, uma entrega à totalidade do ser, uma
entrega à razão de existir, uma entrega às palavras sem-sentido, aos sonhos
ubíquos, à louca arte e ao mundo. O mundo do não-existir.
Que se chama a algo que é mas não pode ser!? Que
pensa mas não sabe?! Que pensa pensar mas não sabe saber? Como chamaremos a
algo que pensa saber mas não sabe pensar!? Máquina infames, talvez. Tenho uma
questão. Surgiu-me agora.
Será que se dermos calças a um animal e lhe dissermos que é civilizado
ele deixa de ser animal!? Curioso.
Sento-me e relembro. Que tragédia clássica. Nasço.
Acordo, durmo, aprendo, vivo, como, fodo, choro, sofro, ri-o,
continuo-o até morrer. E esqueço.
Morro.
E agora?
Fim.
Finitude
Finitude eterna.
Finitude eterna que não existe.
Nada.
Sem-ser
E estou vivo. Aqui. Ali. Agora. Amanhã. Vivo para morrer. Sento-me à
espera, fumo um cigarro de consolação, e com o fumo esboço círculos de desespero. E vejo da janela, uma máquina que vive na anarquia
pensando conhecer quando nada conhece. Constrói o seu delicado mundo de areia,
onde é pó que voa para a morte, vindo da morte em si. Pó, poeira.
E são máquinas de regras e de
tabus e de convenções e de educações. Não conhecem o amor, nem a justiça, nem a
liberdade. Mas vivem na hipocrisia de afirmar conhecer. Matam para
(sobre)viver. Educam para civilizar. Mas civilização. Onde!? Uma civilização
morta que nunca chega a erguer-se.
E assim, vamos nós (eles?), os mortais que não conseguem dançar, caminhar sob o fio da navalha.
Não sei sentir, escrevo-o. Escrevo que não sei sentir. E sinto. Sobre o que não sei sentir, enquanto o escrevo. Enquanto ainda o escrevo. Ainda ...