segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Lua Minguante



 O espelho paralisado entre as ambiguidades estilhaçadas do tempo inimaginável, reflectia-se a si próprio, a mim, a ele e a nós, apresentava a minha hostil essência, viajante das minhas veias e dilacerante das minhas entranhas, à mundana realidade comum.          
 Mantida num balanço existencialmente perpétuo, essa lua minguante, a minha essência transportava-me a mim mesmo, enquanto projecto e projector de existência para lá do térreo, ecoando-me para além de mim mesmo numa gota de água perdida num oceano de conjecturas sufocantes, materializando-me de um modo erroneamente inconsciente, sussurrando-me empirismos e gritando-me realismos.
 A Lua Minguante brilhava, ainda que ninguém a pudesse verdadeiramente ver, vendo apenas uma quota parte diminuta do seu todo, do seu íntimo, da sua própria e fatídica realidade.
  Ainda assim, a Lua agia como se nada fosse. Já lhe era assim imposto, viver escondida ainda que brilhante, era a sua natureza, ou melhor, a natureza do que a rodeava e logo, como transportadora inócua e mera escrava da existência apenas se podia render à fragilidade do seu hospedeiro e à inverosimilhança do seu ser.
 Ainda que, a Lua tentasse mostrar-se ao Mundo como ela verdadeiramente era, a escuridão soerguia-se para além da sua vontade, mergulhando-a num breu de alma imenso.