Quero pegar na minha mochila, nuns quantos livros de bolso, mapas velhos e bússolas extraviadas e viajar. De preferência para bem longe daqui, não necessita de ser um país com grandes pontos turísticos ou com uma esplêndida paisagem tropical, precisa, apenas, de ser algo novo, aonde o ar não me pese e a terra não pareça perecer com o peso do ardor da minha plenitude existencial. Não preciso de um hotel de 5 estrelas ou sequer de um telhado sustentável. Necessito apenas de uma tenda utópica e de uma vida, uma vida vazia, que possa ser preenchida por sonhos e fantasias demasiado meus para serem pendurados em paredes cheias de memórias presas por pregos hostilmente enferrujados na profundidade corruptível do visivelmente invisível. Quero explorar o novo, sem nunca o conhecer, afinal de contas a beleza da vida está no desconhecido. Quero delinear a possibilidade no impossível e cruzar mares em terra, quero aprender através de pessoas que nada sabem, quero libertar-me desta tão gasta carapaça e desfazer-me dela enquanto ainda a consigo manipular, quero voar no vazio e esconder-me na luz. Talvez não queira viajar, talvez apenas queira fugir de toda esta tempestade imoral, de todo este remoinho de confissões abruptas. Talvez, de certa forma, seja fraco, demasiado fraco para aguentar o ímpeto de todo este atentado inumano. Cada dia parece mais uma batalha fracassada, mais um remoer de sangue derramado, mais preocupações, mais revelações, mais dificuldades. Talvez seja essa a minha própria essência: ser um guerreiro que não entende o porquê de guerrear.