O som pouco importava. Importava sim a sensação que este trazia através da sistemática melodia que reproduzia. Uma melodia fiável transmitida através de sons rastejantes e nauseabundos – um assobio – longo e prazível traduzido em sopros assimilados. Não sabia que música tentava o assobio imitar, porém era um som calorento que me fazia vaguear pelo mundo transtornado que é o de memórias e recordações. Numa sensação de aconchego ao pouco que restava de uma alma pouco prezável fechei os olhos e escutei atentamente. O sopro invadia o ar arrastando-se através das pequenas brechas que ia encontrando e mergulhando profundamente sobre a aura corpórea que me envolvia. Aquecia-me, não só o som mas como a pessoa que o entoava. Tal como um vidro perante um som oco também eu dava por mim a vibrar de susceptibilidade. Porém, o assobio tinha já parado. O ar ficara subitamente inóspito, abrindo os olhos vi que estava sozinho - sem assobio, nem aconchego.