Lá ao fundo, um incorporéo reflexo de uma silhueta indefinida fazia-se por distinguir entre as margens inconformadas de um mar pouco adormecido. A silhueta mexia-se e remexia-se dentro da plenitude do seu rosto em forma de coração ternurento. Quando o brilhar dos seus olhos se fez atravessar pelo mar insidioso e chegou até mim pude, por breves momentos vislumbrar bocados da sua alma a sorrirem-me de presunção. Foi então que entre as ondas virtuosas do mar agitado pude descortirnar um horizonte paralelamente harmónico à sua beleza. Um horizonte pouco terreno, demasiado versátil e tremendamente radioso. Sob o horizonte, lá estava a silhueta. O rosto sereno escondido entre brumas de feições pouco amigáveis, emolduradas por longos cabelos encaracolados cuja cor fazia inveja ao mais puro dos ouros. Apenas um oceano imenso nos separava da sensualidade de corpos. Perante a distância irreversível a silhueta começou-se então a afastar, deixando apenas uma sobriedade atrás dela. Uma torrente de sentimentos nostalgicos caiu sobre mim perante a partida. A ferida que a estranha silhueta tinha deixado ao marcar-me com a flamância do seu olhar começou a arder de condolência. Por fim e após a ardência desaparecer, virei costas. Lá no fundo sabia que jamais te voltaria a ver.