Depois de teres saído por aquela porta de malas feitas e objectivos definidos, sem uma única palavra de despedida, sem uma última carícia de amor ou beijo enfatizado, senti a mais profunda angústia e o mais terrífico dos desesperos. Em passos mórbidos e movimentos exequíveis tentei-me libertar das cordas ensanguentadas que tanto te esforçaste por apertar mas jamais consegui. Os vínculos que com tanta exactidão cingiste não tinham sido feitos com o intuito de mais tarde virem a ser quebrados, pelo menos eram essas as palavras que me murmuravas de leve ao ouvido. Após breves momentos de inânia dor libertei-me. A cambalear de vacuidade, saí também eu pela porta que deixaste aberta. Cá fora, o céu anunciava uma noite reminiscente, porém o vento assobiava agressivamente. Tentei então com todas as minhas forças apagar as memórias que a tinta ilegível me assinaste na pele, tentei arrancar os sentimentos utópicos que me induziste na alma, as palavras que me sussurraste na pureza da noite, os sorrisos que me ofereceste, os elogios que me fizeste, as mentiras em que me embutiste, as farsas que retrataste. Inequivocamente encontrei um pedaço de saudade estilhaçado dentro de mim, bem fiz por abscindi-lo mas em vão. Ainda assim, numa atitude altiva de quem não circunscreve o pecado do amor aconcheguei-me dentro da minha soidade! E ali esperei, esperei que o sabor dos teus lábios se divagasse, e o odor a voluptuosidade se fluísse. Adivinharia que tu sabias que não valia a pena procurar, por mais que tentasses jamais me voltarias a encontrar!