E com o tempo aprendemos. Aprendemos como confiar pouco nas pessoas, como não abrir o nosso aconchegado coração a forasteiros mal-intencionados. Aprendemos a ser duros e pouco versáteis, aprendemos a tornar as nossas emoções frias e o nosso ego narcisista. Lentamente, trocamos o amor pelo sexo, trocamos a inocência pela impiedade, o talento pelo prestígio e damos por nós a trocar a alma. A mudança é repentina, e mais do que ser repentina, a mudança é definitiva, aqui e além sentimos a presença do nosso antigo “eu” mas não passa de um minúsculo grão de poeira dissipado em areia pouco amistosa. Durante as noites mais frias ainda ouvimos o sussurro de memórias e algures entre o frágil limiar entre a demência e a sanidade tentamos alcançá-las mas já é tarde demais. O nosso rosto também ele se vai moldando: as feições tornam-se mais rudes, os olhos mais perspicazes, a voz mais convicta, os lábios cerrados e o sorriso fechado a 7 chaves. É provável que a maneira de ver as coisas também se modifique, aos nossos olhos todos as coisas passam a ser iguais, o preconceito começa a borbulhar, damos por nós a criar a tão desesperada rotina e do nada sentimo-nos vazios como que nos faltando algo ao nosso tão perfeito mundo. Sentimos então a falta de carinho, de um corpo que nos aconchegue, de uma alma que nos complete, do desejo carnal de amar e ser amado. Gritamos por ajuda, apelamos por socorro mas o auxílio nunca chega. Um dia, deparamo-nos com o(a) responsável por tudo aquilo, a tal pessoa que nos traiu, nos tratou como meros peões de um jogo já ganho, que nos humilhou ao fazer-nos chorar noite após noite, curioso que essa pessoa está precisamente igual - com uma aparência bonita e um porte elegante. Apenas nós mudamos e não só mudamos, como fomos responsáveis pela nossa auto-destruição. A única questão que coloco é: Se a pessoa que nos fez mudar não mudou, porque haveremos nós de mudar por ela!?